O amor apresenta muitas formas de manifestar-se, de expressar-se, de sedimentar-se. Prefiro não me aprisionar em sua etimologia, tampouco em suas explicações bioquímicas ou filosóficas, mas deixar-me simplesmente envolver-me nos fluxos dos raios da esperança como estrada possível na busca da maior força do universo: aquela força alquímica que dissipa as trevas dos nossos monstros internos e das decepções de momentos menos afortunados que somente o amor cura.
Ah, esse amor romântico, suspirante, enternecedor e palpitante, seria físico ou psíquico? Seria quântico? Idealizado? Pulsão de vida? Pouco importa sua tessitura. Amor é a mistura de tantos ingredientes sem receita pronta. O amor não deve se compreendido nem interpretado, mas vivido intensamente. Libido! Linguagem dos anjos! Talvez o amor seja expressão psicossomática que nasce das entranhas dos desejos mais profundos para desembocar nas veias dos sentidos estremecedores e nas palpitações advindas do olhar lancinante da doação do ser inteiro. Sede e fome visceral da pura excelência vivencial.
O amor é como a simplicidade e inocência nos olhos de uma criança, norteada pela fé em que tudo crê, em que vive o momento presente com tudo o que pode oferecer, que não aprisiona, mas que também não se deixa aprisionar, ou assim deveria ser. Isto porque o amor não objetiva preencher o vazio existencial de cada um, mas mostrar o caminho da possibilidade de completude enquanto ser, alimentando-se pela vontade própria de nutrir a si mesmo e movido por seu desejo de manter-se vivo.
Luar das ilusões, nascido do quase “nada”, o amor é dádiva divina, é o brilho da essência que move a vida; o elixir sagrado que transmuta a existência. Auto abandono na entrega de trajetórias desencontradas para mergulhar no mar de sonhos arcaicos, do ininteligível mas não menos real, onde a ocitocina brinca saltitante, enlaçando e fortificando tonalidades afetivas para construir substratos fortes no preparo das delícias da quietude do Olimpo.
Amor real? Amor ilusório? Seria possível classificar este hiato que une o momento ao eterno? Possível justificar a ponte que leva ao paraíso do ser? Todo amor é expressão genuína da vida que transpira na epiderme da mente, no suspiro d’alma, nem que seja por um minuto, mas que se eternize e que supere qualquer instante, que faça a existência valer a pena. Amor verdadeiro não é amor eterno, é o que se eterniza no instante de sua veracidade. O amor não tem regras próprias, manuais e nem bula para seus efeitos colaterais. Cada amor tem sua sacralidade e não se repete em sua essencialidade.
O amor não é complicado mas eminentemente complexo. No entanto, é solução para feridas emocionais, sendo o aconchego que afaga, o abraço que cura, o beijo que entrelaça almas como um pacto, eternizando um instante não endereçado para o baú de nossas lembranças fúteis e efêmeras. Amor são duas almas refletidas no espelho de suas “verdades”, mensagens sincronizadas, olhares subentendidos. São dias claros, tardes chuvosas e também noites sombrias. Alegrias, desafios, desencantos e incertezas que nos faz sentirmos vivos, renovados e renascidos.
Quando amamos, tudo é possível, o mundo nos sorri. Somos sonhadores de anseios “impossíveis”, de improbabilidades reais. E mesmo quando porventura este não se realizar, mesmo assim será inquestionável, visto que amor que não se concretiza é aquele que se eterniza.
Abraços transmutadores,
Soraya Rodrigues de Aragão.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
Você precisa fazer login para comentar.