Não é nenhuma novidade que o problema da internet não se limita somente à busca de autoafirmaçao e de compensações que não conseguimos administrar na vida real. Esta perpassa também as dinâmicas relacionais que geralmente são superficiais via internet, visto que estes “vínculos” afetivo-emocionais projetam idealizações e fantasias, repercutindo nas reais significações que estas possam ter e abranger.
A internet viabilizou muito a nossa vida, tornando-a mais prática, otimizando o nosso tempo, mas se usada de forma negativa, de maneira não conscientizada, esta também é propiciadora de distúrbios como a Nomofobia.
A Nomofobia é um Transtorno do controle dos impulsos, é uma compulsão, é o medo irracional de permanecer desconectado do mundo virtual, causando dependência e como sendo um vício é de se esperar que cause muitas repercussões negativas nas relações interpessoais (principalmente as familiares) e de desempenho, sejam acadêmicas ou lavorativas. Não menos importante corroborar a miríade sintomatológica da Síndrome de Abstinência que esta acarreta e que são praticamente as mesmas dos Transtornos de Ansiedade: sudorese, taquicardia, insonia, irritabilidade, preocupação constante (no caso da Nomofobia, de permanecer desconectado), tensão muscular, insegurança, angústia, dentre outros.
Em outras palavras, não é à toa que a Nomofobia está muito relacionada aos Transtornos de Ansiedade, bem como aos quadros depressivos, seja porque estes quadros psicopatológicos já eram preexistentes, sendo a Nomofobia uma comorbidade, ou porque o próprio vicio nestas ferramentas tecnológicas proporcionariam o desenvolvimento dos Transtornos de Ansiedade ou a Depressão.
Contudo, tenho observado em minha prática clinica que a Nomofobia apresenta uma extrema semelhança com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (na modalidade de verificação ou checagem).
Vejamos estas semelhanças:
1- Na Nomofobia existe uma obsessão, uma vontade recorrente em estar na internet, nos jogos e nos chats, bem como uma compulsão para a checagem de emails e para verificação de likes e compartilhamentos;
2- No Transtorno Obsessivo Compulsivo, o diagnóstico é realizado exatamente pela presença de obsessões e compulsões ou a modalidade mista destes dois elementos;
3- Na Nomofobia, a compulsão na checagem de emails e de mensagens, por exemplo, aliviam temporariamente a ansiedade causada pelo pensamento obsessivo da verificação destes emails ou mensagens;
4- No Transtorno Obsessivo Compulsivo, temos o mesmo ritual de conferência muito significativo, onde algo precisa ser checado várias vezes, causando muito sofrimento psíquico;
5- Ambas as psicopatologias afetam todas as áreas da vida do indivíduo, ocasionando sofrimento;
E então, Nomofobia e Transtorno Obsessivo Compulsivo de checagem se tratariam do mesmo distúrbio?
Existe uma distinção bastante sutil entre as verificações na Nomofobia e no TOC ( modalidade de checagem). Neste último, por mais que se verifique se a porta da casa ou do carro foi fechada, ou que se desligou o ferro de engomar ou as luzes da casa, a pessoa não se convence deste fato, retornando inúmeras vezes para checar e caso nao o faça, algo de ruim vai acontecer. No caso da Nomofobia, apesar do indivíduo verificar várias vezes os emails, as mensagens, as notificações, ele está convencido de que o email ou a mensagem chegou ou não, mas não consegue deixar de verificar constantemente por se tratar de um vício.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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