Antes de explanar este conteúdo, gostaria de salientar que as explicações a seguir tratam do modelo cognitivo de uma forma abrangente. O que quero dizer, é que cada indivíduo tem seus pensamentos automáticos, erros cognitivos e crenças a partir de sua história de vida e de como percebe a si, os outros, o mundo e o futuro. Deste modo, a conceitualizaçao de caso, a reestruturação cognitiva, bem como quaisquer outros procedimentos clínicos são totalmente personalizados. Esta leitura é elucidativa e não substitui a psicoterapia. Dito isto, explicarei cada aspecto a seguir.
Fazendo uma analogia com uma árvore, os pensamentos automáticos seriam as folhas, as crenças intermediárias seria o tronco e as crenças centrais ou nucleares seriam as raízes. Portanto, as crenças nucleares são aquelas mais rígidas e enraizadas.
O que são pensamentos automáticos?
Os pensamentos automáticos (PA’s), como o próprio nome sugere são pensamentos espontâneos, geralmente disfuncionais e trazem à tona conteúdos das crenças nucleares, aquelas mais profundas. Os PA’s são os primeiros conteúdos a serem elaborados em um processo psicoterapêutico, visto que estão mais acessíveis, sendo portanto, a primeira estrutura cognitiva. Vale a pena salientar que os nossos pensamentos possuem uma resposta fisiológica, comportamental e emocional. Exemplo de um pensamento automático: “Me sinto um fracasso, nada para mim dá certo, nem adianta tentar”. Este é um PA’s clássico na Depressão e precisa ser reestruturado como parte do processo de cura. Digo isto, porque a cognição é muito importante para a nossa qualidade de vida, pois não são os acontecimentos que definem nossos pensamentos e comportamentos e sim a percepção que temos destes acontecimentos que definem como vamos pensar e nos comportar.
Portanto, pensamentos funcionais melhoram exponencialmente a qualidade de vida, pois a partir deles, percebemos o que nos acontece de maneira mais lucida e realista, o que nos faz agir com comportamentos adequados e portanto, saudáveis. Seguindo esta linha de raciocínio, quando percebemos o mundo de maneira lucida e contextualizada, melhoramos a qualidade dos nossos relacionamentos, a performance lavorativa, fortalecemos a autoestima e a resiliência. Pensamentos e comportamentos funcionais estão diretamente relacionados com a assertividade e a inteligência emocional, pois através de interpretações mais eficazes e que garantam um posicionamento funcional diante de nós, dos outros e da vida, percebemos a nós, aos outros e a vida com um viés mais realista. Em contrapartida, pensamentos disfuncionais são portas abertas para distúrbios psicológicos, como os transtornos depressivos e ansiosos, por exemplo.
Imagem de Olya Adamovich no pixabay
O que são crenças intermediárias?
As crenças intermediárias também conhecidas por crenças subjacentes, são a segunda estrutura cognitiva e que são representadas por regras, atitudes e pressupostos, estando diretamente vinculadas às crenças centrais.
Sabemos quais são as regras do paciente através de suas falas e que incluem sempre algo imperativo: “eu devo”, “eu preciso”, “eu tenho que”. Exemplos comuns de atitudes através do que o paciente pensa são: “sou um fracasso”, “me sinto um lixo” e os exemplos de pressupostos seriam falas que sempre colocam uma condição específica para explicar uma situação: “se tivesse feito tal coisa, não seria um fracasso”, “Se fosse amado, não me sentiria um lixo”. Portanto, as regras e pressupostos são sempre imposições, imperativos, o que a pessoa precisa e deve fazer.
Importante ressaltar que as crenças intermediárias são desenvolvidas como mecanismo de enfrentamento para lidar com as crenças centrais, que são aquelas mais rígidas e cristalizadas.
O que são as crenças centrais?
São conceitos construídos durante a vida da pessoa, tendo um maior impacto durante a infância e que abrangem as crenças ou idéias sobre si mesmo, do mundo, dos outros e do futuro. Como já dito anteriormente, as crenças centrais são ideias rígidas, inflexíveis e cristalizadas, que podem ser funcionais ou disfuncionais. Muitos fatores entram em jogo para a formação das crenças centrais, tais como: modelos sociais, o funcionamento familiar, o tipo de educação recebida, os aprendizes familiares, a dinâmica da escola, como se estabeleceram os primeiros vínculos infantis, como foram as relações interpessoais, os traumas e abusos sofridos, o que disseram de nós e como nos trataram, etc. Toda crença central possui regras intermediarias e estratégias compensatórias ou de enfrentamento, que igualmente podem ser funcionais ou disfuncionais. A tríade das crenças centrais são constituídas pelas crenças de desamor, desvalor e desamparo.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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