Sabe aquele sofrimento advindo de uma perda, de uma situação difícil de ser elaborada, de um luto, de não estar realizado em alguma área da vida, estando em constante conflito conjugal ou mesmo interpessoal, passando por um processo de separação, privação emocional ou quaisquer outras situações as quais existam um estado de sofrimento e em que a capacidade de resolução deste não depende somente da pessoa, estando além de seus recursos financeiros ou emocionais.
Estados de estresse sobrepostos durante muito tempo, onde a pessoa está em uma constante “luta” interna para resolver uma determinada situação externa, em que a mesma não tem o “controle” de alguns fatores, faz com que esta pessoa entre em “desamparo aprendido”, entendendo que não adianta fazer muita coisa, visto que não obterá resultados satisfatórios ou mesmo nenhum resultado. É exatamente neste ponto de desgaste em que as emoções e sentimentos não se expressam através do choro e da fala, mas se manifestando através dos processos de somatização. Na somatização, as pessoas não choram com os olhos, choram com algum órgão do corpo; os estados emocionais represados encontram a via do físico para se expressar. Neste contexto, as emoções se comunicam através da dor e desconfortos, surgindo dores de cabeça persistentes, alergias, dores estomacais, azia, refluxo, problemas nas articulações, dores musculares, insonia e tremores no corpo, dentre outras.
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Todos somatizamos em algum nível, em situações pontuais, pois não existe separação entre corpo e mente. O problema se configura quando as somatizações deixam de ser pontuais para se tornarem recorrentes, cronificando os sintomas e sendo campo propício para o desenvolvimento de um Transtorno de Somatização. Quando as dores físicas tornam-se constantes, a pessoa busca ajuda médica, faz uma série de exames, não encontrando a causa orgânica através de exames clínicos e laboratoriais que explique aquela dor. Em outras palavras, os sintomas e as dores não são justificadas por um problema físico. Após a realização de todos os procedimentos clínicos e ambulatoriais necessários, constata-se que a dor é de fato de cunho emocional.
O que é o Transtorno de Somatização?
É uma condição clinica caracterizada por um ou mais sintomas físicos oriundos de conteúdos psíquicos, tais como desconfortos e dores sem que haja uma identificação, correlação e/ou causa física. Por não ser justificada fisicamente e por ter origem psíquica, isto não significa que o paciente esteja fingindo os sintomas, simulando-os ou os inventando por qualquer motivo que seja. A dor e o desconforto são reais, causam muito sofrimento e portanto requerem ajuda profissional para que os sintomas não se croniquem. O Transtorno de Somatização afeta mais mulheres que homens e aproximadamente 15% das visitas ao clinico geral são devidas a esta condição psiquiátrica.
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Sintomas, sinais e características do Transtorno de Somatização:
O paciente é caracterizado como “poliqueixoso” e com sintomas físicos persistentes. Estes sintomas estão diretamente relacionados com pensamentos “negativos”, “crise existencial”, geralmente com sentimentos de inadequação, fracasso e expectativas frustradas em alguma área da sua vida. Geralmente o diagnóstico é feito antes dos 30 anos. Ocorre perda de tempo e energia com preocupações excessivas acerca da própria saúde. O paciente tende a peregrinar por ambulatórios, prontos-socorros e exames clínicos para encontrar uma doença que explique seus sintomas, mas os resultados dos exames são negativados. Isto acontece porque no Transtorno de Somatização a causa é de ordem psíquica e emocional, estando geralmente associada a estados ansiosos e depressivos, principalmente à Depressão Reativa.
Causas:
Fatores genéticos podem ser predisponentes ao desenvolvimento do Transtorno de Somatização, mas aqui o peso maior são os fatores ambientais, sejam eles internos ou externos. Portanto, as principais causas são as de ordem emocional, em que o organismo não suporta as constantes situações de estresse sobrepostas e sem tempo de elaboração. Como já foi dito anteriormente, desafios de vida difíceis de lidar, tais como perdas, lutos, separação, insatisfação com alguma área da vida, decepções e sobrecarga de vida continuas em que a resiliência é minada, os conteúdos psíquicos represados desembocam no corpo como uma forma de expressão, de linguagem, afim destas emoções serem compreendidas e porventura elaboradas.
Tratamento:
Quando através de exames clínicos minuciosos foram refutadas quaisquer doenças físicas, ou seja, não havendo nenhuma correlação dos sintomas com uma doença orgânica, é diagnosticado o Transtorno por Somatização. O tratamento consiste na associação de psicoterapia e medicamentos. O tratamento psicoterápico consiste na avaliação e ressignificaçao através de técnicas psicoterapêuticas específicas de traumas vivenciados, expectativas frustradas, conflitos interpessoais, insatisfações, sentimento de fracasso, sentimento de despertencimento e desadaptação, culpa, privação emocional, bem como situações adversas vivenciadas e mal administradas também no âmbito social. Não menos importante é a avaliação do estresse diário e de como o paciente lida com este, visto que sofrimento e sobrecarga emocional é “argamassa” para somatizações. Importante também investir no autoconhecimento, a fim de compreender seus processos internos, sentimentos e emoções.
Foto de capa: Pixabay
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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