Segundo Bowlby, no processo de desenvolvimento neonatal, é imprescindível que a criança tenha uma relação de apego com um genitor, e na falta deste, um cuidador primário que o  substitua e cumpra este papel, para que haja um desenvolvimento saudável. Trata-se de questão de sobrevivência que a criança tenha suas necessidades atendidas, sejam elas de cunho físico ou afetivo-emocional, visto que estes elementos são importantíssimos para a garantia do desenvolvimento de suas funções motoras, cognitiva e afetivo-emocionais.
Na primeira infância, com a maturação das estruturas cerebrais, a criança vai se desenvolvendo e se adaptando para o enfrentamento do ambiente interno e externo e no manejo da relação mãe-filho. Neste período, a criança necessita de estimulação provenientes  do vínculo de apego com um cuidador para a integração do seu self, e sendo assim, o vínculo nesta fase do desenvolvimento humano é estritamente necessário, corroboro. São desenvolvidos através da mãe/pai  ou quem exerça esta função- a elaboração de novas adaptações, seja no campo social que relacional, sendo a mãe o ambiente propício e suporte confortante na regulação de emoções disfuncionais que possam surgir durante o processo de construção do self da criança e da formação de sua identidade.
Deste modo, a teoria da vinculação, formulada por Bowlby, tem como ponto central a importância de um genitor que possa prover as necessidades físicas do bebê, tais como alimentação, supressão da dor, aconchego,  cuidados higiênicos, bem como as necessidades afetivo-emocionais: acolhimento, afeto, contato visual, segurança e decodificação dos tipos de choro associando às necessidades expressadas através destas tipologias. Associada à necessidade do apego verificamos também a ansiedade ou angústia de separação, sensação desagradável de medo experimentada pela criança em fase evolutiva quando este mesmo cuidador primário se ausenta, visto que a criança ainda não desenvolveu a capacidade simbólica para discriminar o “jogo” ausência-presença.
Além de Bowlby, as contribuições de Winnicott foram igualmente importantes para a compreensão de como se processam os vínculos afetivos entre a criança e o ambiente familiar para a maturação de suas funções motoras, emocionais e cognitivas, bem como para a formação de sua identidade, tendo como premissa a figura da “mãe suficientemente boa”.
Mas o que seria exatamente a “mãe suficientemente boa”?
É a mãe que oferece ao bebê a possibilidade da ilusão da onipotência. Esta mãe lhe empresta um  ego auxiliar através da unidade mãe-filho, para que se constitua a construção de sua identidade. A mãe “suficientemente boa” serve de anteparo, oferecendo as condições ideais para que a criança desenvolva as capacidades que se encontram inatas, e que estruture e integre o seu self, sendo pressuposto para sua organização mental.
Um conceito muito importante também criado por Winnicott é o holding. Este tem a função de desenvolver estas capacidades inatas através do contato corpo a corpo com a mãe, onde através deste vinculo, a mãe- cuidador vai delineando o processo de integração das funções psíquicas para a formação do self da criança. Quando a mãe-cuidador não provê as necessidades básicas do bebê acima elencadas, é constituído então um falso self, e que em  outro artigo, irei elucidar.
Constatando que a receptividade primária do apego é crucial para um amadurecimento psíquico saudável e que paulatinamente este deverá dar espaço a uma nova proposta no cenário do desenvolvimento bioquímico que se apresenta nos bastidores da maturação cerebral; a metodologia utilizada pelo cuidador em um determinado período evolutivo do bebê deve ser atualizada, visto que com o crescimento surgem novas demandas e consequentemente novas estratégias e metodologias educacionais.
Com a maturação motora, cognitiva e emocional são desenvolvidas novas modulações e novos repertórios comportamentais para lidar com as novas propostas interrelacionais.  A  ansiedade de separação poderá ser evocada e sentida mesmo em um adulto, em dadas situações específicas, e sua resposta à esta ameaça vai depender substancialmente de como se procedeu os primeiros vínculos afetivos primários, eis a importância destes, que vai desde o nascimento até aproximadamente os 18 meses.
Não é correto afirmar  que somente a teoria do apego explica todos os componentes comportamentais de como um adulto lida com seus vínculos afetivos e suas emoções, mas a realidade é que  a importância do vínculo primário e sua relação com futuras dificuldades -ou não- nas relações interpessoais afetivas e de apego tem uma relevância fundamental e principalmente nos primeiros meses de vida de um bebê, como foi elucidado acima.
Por este motivo, gostaria de desmistificar aqui a crença de que se uma mãe-cuidador satisfaz todas as necessidades da criança nos seus primeiros meses, esta será uma criança mimada, birrenta, apegada e que futuramente não será segura de si e capaz de encarar os problemas e desafios da vida. Muito pelo contrário.
Portanto, nos primeiros meses  é muito importante o vínculo do apego. Ofereça suporte através de carinho, atenção, cuidados e afeto para o seu filho, de modo que este possa ter um crescimento saudável, tornando-se mais apto e confiante diante dos desafios dos novos processos do desenvolvimento que estão por vir.

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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