A resiliência humana é um tema bastante discutido, embora infelizmente seja uma competência pouco desenvolvida, visto que muitas vezes não foram criadas habilidades socioemocionais para administrar, ressignificar e lidar com situações inesperadas, tais como um trauma, uma traição, a perda de uma condição ou mesmo com o próprio estresse cotidiano e continuo, mas que pode exaurir recursos de enfrentamento diante de adversidades. Neste contexto, os mecanismos psicoadaptativos “entram em pane”, onde a pessoa se paralisa diante de situações catastróficas. Sendo assim, elaborei alguns questionamentos para que você compreenda o seu nível de resiliência no intuito de desenvolve-la e/ou fortalece-la. Responda a estas perguntas com sinceridade:
1- Você se deixa vencer diante das adversidades da vida, acreditando que os desafios são maiores que suas próprias forças e recursos internos?
2- Você acredita que as dificuldades que a vida oferece naquele momento são impossíveis de serem superadas?
3- Diante da crise deflagrada, você se mantém calmo ou se entrega ao desespero, não antevendo nada de positivo, entrando em estados ansiosos e/ou depressivos?
Em sua sabedoria, a natureza nos transmite constantemente mensagens de que no mundo em que vivemos terão dificuldades, mas que com garra e coragem sempre venceremos os desafios que esta nos oferece, basta deixar brotar a fé e florescer a esperança em nossos corações, pois sempre haverá um novo amanhecer. E mesmo que as nuvens negras anunciem as piores tempestades, estas passarão, nos trazendo novas chances. No entanto, compreender e decodificar estas mensagens na percepção da superação é muito difícil para quem se encontra envolvido nas sombras das perdas, do desalento, do sofrimento e da falta de esperança materializados em perdas significativas e mudanças existenciais bruscas que requerem readaptação e onde não se vislumbra nenhuma solução para as incógnitas da vida nas penumbras do desalento. Contudo, são exatamente nestes momentos que nos esquecemos que se utilizada com inteligência, toda insatisfação, frustração, desesperança ou desilusão, serão oportunidades de avanço, de mudança, de autodesenvolvimento. Diante do “estado de espirito” de desesperança, o que fazer para acionar nossa força interior? Como desenvolver e fortalecer a nossa resiliência diante de nossas tempestades internas? Apresento abaixo algumas sugestões que obtiveram resultados na clinica psicológica e na vida prática:
1- Aprenda a colocar seu coração em paz:
Cultive a serenidade. Para algumas situações, temos controle, mas para outras, não. No tocante às circunstâncias que não podemos modificar, quando não há nada que possa ser feito, a única alternativa é colocar nosso coração em paz; já para aquelas que podemos agir, que tenhamos espírito proativo e de luta. Não temos controle das ações dos outros, mas das nossas atitudes sim. Não temos controle de algumas circunstâncias da vida, mas de como percebemos, avaliamos e ressignificamos cada acontecimento, podemos administrar sim. Para o que está fora do nosso controle- ao menos naquele momento específico- coloquemos nosso coração em paz. Para que se preocupar com o que foge do nosso gerenciamento? Difícil colocar em prática, mas imprescindível o manejo inteligente destas situações, de outro modo, entraremos em estado de estresse contínuo, o que não favorecerá em nada nossa saúde e paz de espírito.
2- Aquilo que nos acontece, nos diz respeito:
As experiências que nos acontecem sempre nos dizem respeito, sinalizando o que precisamos desenvolver, aprimorar, observar ou cuidar. As intempéries da vida são como mensageiros que nos trazem uma notícia importante sobre nós e para nós, nunca acontecendo por engano ou por acaso e sempre na medida certa. Será que estamos indo pelo caminho justo? Como estão sendo feitas nossas escolhas de vida? Algo em nossa vida ou em nós mesmos precisam de uma observação mais cuidadosa, mas que por um motivo ou outro, estamos negligenciando? Lembremo-nos que tudo acontece em prol de um propósito maior e mesmo a necessidade de sair de nossa zona de conforto pode vir – geralmente vem- em forma de dificuldade.
3- Tenha e mantenha vínculos interpessoais saudáveis:
A rede de apoio social não é somente um fator de proteção eficaz contra crises, mas também um “amortecedor” para crises já deflagradas. O fortalecimento de vínculos saudáveis, onde somos valorizados em nossos melhores aspectos e auxiliados naquilo que ainda precisamos desenvolver são alimento e lenitivo para nossa autoestima, onde nos sentimos acolhidos e aceitos naquilo que somos integralmente o que nos promove substancial fortalecimento.
4- Toda crise é cíclica:
Toda crise é cíclica. O que quero dizer é que todo colapso, toda adversidade é transitória e que vez ou outra nos revisitará. A roda do sansara gira constantemente e para todos, sem distinção. Em alguns momentos estaremos embaixo, outras em cima, em fases cíclicas e alternadas, de altos e baixos, como as fases da lua, como as estações do ano, como as marés, numa constante impermanência, num constante fluir. A história de cada pessoa, em maior ou menor grau, foi construída em uma constante teia de crise e superação, de cair e se reerguer. Enquanto as circunstâncias difíceis não mudam, resta-nos mudar a forma como as percebemos e lidamos com elas. Esta conduta fará toda a diferença diante de uma crise.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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