A Depressão Maior, também chamada de Depressão clássica, é o tipo de Depressão mais grave que existe. Neste tipo de Depressão, os sintomas são mais caricaturados e exacerbados. Por conta disso, a pessoa tem conseqüências dramáticas em sua vida ocupacional e relacional, visto que neste caso especifico, a pessoa sofre de tristeza profunda e Anedonia (atividades que antes o indivíduo exercia com prazer não fazem mais nenhum sentido), havendo inclusive perda do “gosto de viver” e sentimento de grande vazio existencial. Por sentir uma letargia e tristeza profunda, a pessoa muitas vezes não consegue sequer realizar as atividades básicas do dia a dia, tais como o cuidado com sua higiene pessoal, por exemplo. Há uma sensação de morte em vida, a pessoa quer ficar na sua cama, ali quietinha sem ouvir nenhum barulho, de preferência no escuro. O corpo parece pesar toneladas, a pessoa não consegue se levantar para se alimentar, mesmo que sinta fome. Seus pensamentos são negativos e se voltam para uma possibilidade de encontrar uma solução na morte. A pessoa não quer morrer, o que ela realmente deseja é sair daquele estado de extremo sofrimento.
Devido à sua gravidade e risco de auto-extermínio, na Depressão Maior torna-se necessário a realização de tratamento combinado: farmacológico e psicoterapêutico. Vale a pena salientar que na Depressão Maior existe um desequilíbrio grave nos sistemas bioquímicos do cérebro o que faz com que esta doença tenha um comprometimento significativo em todas as áreas da vida da pessoa. Atinge mais mulheres que homens, sendo a menopausa um fator de risco para o desenvolvimento deste tipo de Depressão.
Conheça os principais tipos de depressão aqui: Os 8 tipos mais comuns de Depressao
Sintomas da Depressão Maior de acordo com o DSM-V:
Para um diagnóstico preciso, de todos os sintomas a seguir, humor deprimido e perda de prazer ou Anedonia precisam estar presentes. Anedonia é a perda ou redução de interesse ou prazer em atividades que antes a pessoa gostava de fazer.
Além de 1 dos 2 sintomas obrigatórios (humor deprimido e Anedonia), pelo menos 5 sintomas dos nove abaixo precisam estar presentes:
1- Sentimento de desvalia, inutilidade e culpa;
2- Problemas cognitivos: redução da concentração e da memória. Desatenção;
3- Insonia ou hipersonia;
4- Pensamentos e ideação suicida;
5- Ganho ou perda de peso- Atenção: Transtornos alimentares podem vir associados à Depressão;
6- Agitação ou retardo psicomotor;
7- Fadiga (cansaço) e perda de energia;
8- Desesperança e perspectiva negativa do futuro;
Importante: Para um diagnòstico correto, os sintomas devem perdurar por pelo menos duas semanas consecutivas, durante todos os dias e na maior parte dos dias.
Foto de Kat Smith no Pexels
Tratamento:
O tratamento da Depressão Maior consiste na associação de medicação e psicoterapia. Atenção: a medicação é importante, não a substitua por soluções milagrosas. Cuide-se, faça o tratamento farmacológico!
A psicoterapia é igualmente de fundamental importância no tratamento da Depressão e trata aspectos emocionais, cognitivos e possíveis traumas que a medicação não ressignifica. O psicólogo trabalha os erros cognitivos, o sentimento de desvalia e a falta de perspectiva na vida e no futuro. A Psicologia cognitivo-comportamental trabalha com um instrumental amplo, efetivo e duradouro, com comprovação científica e apresentação de eficácia através de pesquisas aprofundadas e comprovadas neste campo. A Depressão é uma doença séria, com alto risco de suicídio e portanto requer um tratamento igualmente sério com a medicação correta e psicoterapia adequada.
Segue abaixo algumas técnicas da terapia cognitivo-comportamental que lhe ajudarão a compreender como a psicoterapia acontece. A primeira técnica você pode tentar fazer sozinho.
Ativação comportamental:
A ativação comportamental (AC) é uma técnica da abordagem comportamental que tem por objetivo desenvolver e reforçar o repertório de habilidades do comportamento do paciente para a ação cotidiana, bem como para descobrir atividades prazerosas que proporcionarão experiencias gratificantes ou reforçadoras contextualizadas com o estilo de vida do paciente e que darão um sentido na vida do paciente, visto que a anedonia e a apatia fazem parte do quadro de Depressão. Aqui, o paciente precisa (re)descobrir as atividades que são gratificantes. Alguns gostam de pintura com mandalas, outros de esporte aquático, yoga, fazer crochê, bordados ou outro tipo de artesanato.
Trabalho das crenças disfuncionais e pensamentos negativos na Depressão:
O trabalho dos esquemas cognitivos disfuncionais faz parte do processo terapêutico na Depressão, visto que sentimentos de desvalia, inutilidade e culpa estão presentes. Em outras palavras, o paciente se “se sente para baixo”, inadequado, insuficiente, incapaz, em um constante sentimento de derrota. Estas crenças, pensamentos e sentimentos negativos são devastadores e como em uma areia movediça, quanto mais o paciente se deprime e foge de situações por sentir-se inadequado, mais se confirma sua crença de que é incapaz, levando-o a um estado de total desesperança e perspectiva no futuro. A partir deste ponto surgem ideias de que a vida não tem sentido ou que não vale a pena viver.
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Questionamento Socrático:
O questionamento socrático é um instrumental muito importante e como o próprio nome sugere, auxilia no questionamento das crenças consolidadas do paciente sobre si e a vida. O objetivo desta técnica é fazer o paciente verificar através de fatos plausíveis a veracidade das suas crenças.
Alguns questionamentos utilizados são:
Por exemplo, a pessoa se sente incompetente ou acredita que não há nenhuma perspectiva de futuro para ela:
1- Quais são os indícios ou provas a favor e contra que justificam seu pensamento? Pedir para o paciente descrever através de provas plausíveis se aquilo que ele está pensando corresponde com a realidade. Não vale dizer “eu acho, eu penso ou eu sinto”, tem que ser evidencias. Fazendo uma metáfora, quando uma pessoa se apresenta a um juiz, servem somente para uma sentença justa, as provas que comprovem o que ele/ela está afirmando e não apenas “eu acho” , “eu sinto” ou “eu acredito”.
2- Existiriam outras possibilidades de se perceber a situação? Pedir para o paciente elencar estas probabilidades.
3- O que pode acontecer de pior se o que você estiver pensando for verdade? Esta pergunta é importante para trabalhar a catastrofizaçao, visto que na Depressão, a pessoa tem pensamentos distorcidos e negativados.
Atenção: Este artigo tem somente função informativa, não podendo ser utilizado para diagnóstico. Caso você se identifique com os sintomas, procure assistência profissional especializada. Um psicologo ou psiquiatra podem te ajudar.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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