Falar de morte em nossa sociedade atual é quase um tabu, pois a nossa cultura gratifica e reforça a vida e isto é positivo. No entanto, a morte, nao faz parte da vida? A felicidade constante é o projeto de vida de todos nós, mas infelizmente a morte/perda faz parte da vida e precisamos estar preparados para ela. Neste caso, quais as estratégias de enfrentamento que você se utiliza para lidar com a finitude? Saiba como lidar com suas perdas.

Como você reage às perdas? 
Quais as estratégias de enfrentamento que você se utiliza para lidar com a finitude? 
Quais os recursos internos que são mobilizados diante dos processos de finalizações, de morte simbólica ou morte física?
Você tem sentimentos de posse por seus vínculo afetivos? 
Tenta ter controle de situações que chegam ao fim?
 
Falar de morte em nossa sociedade atual é quase um tabu, pois a nossa cultura gratifica e reforça a vida e isto é positivo. Mas a morte, nao faz parte da vida?
 
Quando falo de luto e morte, nao me refiro somente à morte fisica, mas de qualquer perda ou algo que finaliza. Apesar de que, na nossa trajetória existencial, vivenciamos toda sorte de perdas, dores e términos, ter uma educação preventiva para trabalhar estas questões não parece ser uma preocupação de primeira ordem em nossa sociedade imediatista, pois de fato não existe lugar para a dor, nem para trabalhar o sofrimento proveniente das perdas. 
 
A felicidade constante é o projeto de vida de todos nós, mas infelizmente a morte/perda faz parte da vida e precisamos estar preparados para ela.
 
Por este motivo, quando perdemos algo ou alguém a quem temos um vínculo afetivo, a dor é imensa, e então, o processo de luto “bate à nossa porta” trazendo consigo aquele conjunto de reações e sentimentos que se manifestam e que precisam ser elaborados, digeridos, trabalhados.
 
O processo é delicado, difícil e doloroso, mas necessário. Negamos, nos revoltamos e tentamos negociar de toda maneira possível para termos de volta o que se foi. Por fim, internalizamos que algo mudou e que precisamos nos apropriar agora de uma nova realidade.
 
No processo de aceitação entram em jogo o conjunto de crenças e de percepções do enlutado. O apoio familiar bem como a rede de apoio social são de fundamental relevância durante o percurso.
 
 
Para ilustrar o processo de luto, é muito interessante a estória do Buda e da semente de Mostarda (Autor Desconhecido), pois aborda o tema com propriedade onde podemos encontrar muitos aspectos inerentes às fases do luto bem como o despreparo e resistência para processos de perda.
 
A estória relata que Krisha Gotami teve um filho e este morreu. Transida de dor ia com o filho morto de casa em casa, pedindo um remédio e as pessoas diziam: Esta criança està morta!
 
Krisha Gotami, enfim, encontrou um camponês que respondeu à sua súplica dizendo: – Não posso dar um remédio para a criança, porém sei de um médico capaz de dar: O Buda!
 
Krisha Gotami, então, correu até o Iluminado e exclamou, chorando: – Senhor meu e Mestre: meu filho estava brincando entre as flores e tropeçou numa serpente que se enroscou em sua perna. Ficou logo pálido e silencioso. Não posso aceitar que ele deixe de brincar ou que deixe o meu colo (fase da negação). Senhor meu Mestre, suplico-lhe, dá-me um remédio que cure meu filho!
 
O Iluminado respondeu: – Sim irmãzinha, há uma coisa que pode curar teu filho e a ti: procura um simples grão de mostarda, porém só deves recebê-lo de uma casa onde nunca tenha entrado a morte.
Aflita, Krisha Gotami foi de casa em casa pedindo o grão de mostarda (fase da negociação). As pessoas se compadeciam dela e lhe davam os grãos, porém, quando ela perguntava se já havia morrido alguém naquela casa, lhe respondiam: – Ah! Poucos são os vivos e muitos os mortos. Não despertes nossa dor! Agradecida, ela lhes devolvia os grãos e dirigia-se a outros que lhes diziam: – Aqui está a semente, porém já morreu nosso pai. – Aqui está a semente, porém o semeador morreu entre a estação chuvosa e a colheita. Mas ela não desistia.
 
“Deve haver alguma casa onde a morte não seja conhecida.”, pensou. Ao entardecer, exausta de tanto caminhar e bater nas portas, então compreendeu: “A morte é parte da vida. Não é uma calamidade pessoal que só tenha acontecido comigo!” (fase da aceitação). Com esse entendimento, voltou a Buda.
 
– Ah Senhor, não pude encontrar sequer um grão de mostarda em casa onde não tenha ocorrido a morte. Então, entre as flores silvestres, na margem do rio, deixei meu filho que não queria mamar nem sorrir, e volto para ver teu rosto e beijar teus pés suplicando-te que me digas o que fazer.
O Mestre respondeu-lhe: – Minha irmã, procurando o que não podes encontrar achaste o amargo bálsamo que eu queria dar-te. Sobre teu seio, o ser que amas dormiu hoje o sono da morte. Agora já sabes que todo mundo chora uma dor semelhante à tua. O sofrimento que aflige todos os corações pesa menos do que se concentrado num só.
 
Nenhum nascido pode evitar a morte. Assim como os frutos maduros caem da árvore, assim os mortais estão expostos à morte desde que nascem. A vida corporal do homem acaba partindo-se como a vasilha de barro do oleiro. Jovens e adultos, néscios e sábios, todos estão sujeitos à morte.
Porém, o sábio que conhece a Lei não se perturba, porque nem pelo pranto nem pelo desânimo obtém-se a paz, mas pelo contrário, isso tudo aviva as dores e os sofrimentos do corpo. Embora viva dez ou cem anos, acaba o homem por separar-se de seus parentes ao sair deste mundo.
 
Quem deseja a paz da alma, deve arrancar de sua ferida a flecha do desgosto, da queixa e da lamentação. Feliz será aquele que consegue vencer a dor. Assim, sepulta tu mesma o teu filho.
Extenuada pela dor, Krisha Gotami sentou-se à beira do caminho, pôs-se a meditar no silêncio do entardecer e disse consigo: “Quão egoísta sou eu em minha dor! A morte é o destino comum de tudo quando vive. Porém, neste vale desolado há um caminho que conduz à imortalidade: aquele que elimina de si todo egoísmo!”
 
Para refletir:
 
Precisamos ter uma cultura que proporcione o trabalho do luto. Dor não elaborada é o substrato de sentimentos e sintomas que não conseguimos compreender de onde veio e porque existem. Ignorá-los não farà com que desapareçam, eles continuarão mais presentes e vivos que nunca.
Soraya Rodrigues de Aragao

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