O tempo passa num piscar de olhos e de repente nos vemos com 65 anos, idade regulamentada pelo Estatuto do Idoso desde 2020 para o ingresso na terceira idade. No entanto, começamos o processo de envelhecimento quando nascemos e mesmo que este processo seja irreversível, a maioria das pessoas não estão preparadas para lidar com o envelhecimento, insistindo em permanecer jovens a todo custo. O que a maioria das pessoas não compreendem é que o envelhecimento não é um defeito, nem doença e sim uma fase do desenvolvimento humano e como todas as outras fases apresenta seus desafios e encantos.

A senescência é compreendida por um processo normal de envelhecimento abrangendo modificações desde a nível celular, como ao organismo como um todo, não estando direta ou necessariamente vinculada a doenças físicas ou psíquicas. Por outro lado, a senilidade se configura por um envelhecimento caracterizado por doenças, como o Alzheimer, a demência, a Depressão, dentre outros. Na senilidade verifica-se normalmente que a pessoa não teve durante a sua vida fatores protetivos para que envelhecesse com qualidade. Muitas vezes a Depressão já acompanhava esta pessoa há anos.


Quanto aos aspectos psicossociais, verifica-se normalmente no discurso do idoso diversas queixas, como o sentimento de despertencimento, de deslocamento, o que pode levá-lo a um estado de solidão e sentimento de rejeição. A privação afetiva se mescla com a desesperança e falta de perspectiva no futuro, não sendo fácil lidar com as inúmeras perdas que aconteceram no decorrer da vida, muitas vezes não trabalhadas, como a perda do cônjuge, bem como com a perda de papéis sociais importantes no presente, como o esvaziamento do lar com a partida dos filhos, caracterizando a Síndrome do Ninho Vazio. Parece que a casa se tornou maior, desolada e infelizmente, muitas vezes os parentes se tornam cada vez menos presentes na vida de seus idosos. Como lidar com os tempos dourados, com as lembranças, com as pessoas que já se foram para o outro plano, com a saudade que elas deixaram? Como se situar no hoje, no agora, com o que ficou? Essa leitura pode te ajudar.


Outro desafio a ser enfrentado é a ditadura da eterna juventude, como se velhice fosse um defeito a ser ajustado, a ser consertado. Não tenho nada contra procedimentos estéticos, desde que estes não interfiram na saúde física e psíquica, que não sejam utilizados de maneira obsessivo-compulsiva e não coloquem em risco o bem estar e mesmo a vida das pessoas. O problema é que não temos uma cultura psicoeducativa e preventiva para aprender a lidar com as rugas, de ver o lado belo dos cabelos grisalhos. Muito pelo contrário, a ideia que se passa nas mídias é a divinização da juventude e que a perda desta seria o início de um abismo morro abaixo sem fim em que precisamos evitar a todo custo e pagar a qualquer preço.

Precisamos nos permitir envelhecer sem medo. Mas como encontrar um espaço em uma sociedade que diviniza a eterna juventude? Como encontrar um espaço dentro de cada um de nós para essa fase do desenvolvimento tão cheia de possibilidades mas assim não percebida? A resposta para esses questionamentos se resume nas seguintes palavras: quebrar paradigmas, internalizar um outro conceito do processo de envelhecimento e aprender a arte do desapego.

Photo by Amy Bonthorne on Unsplash

Quebra de paradigmas e internalização de um novo conceito de envelhecer:

Tudo o que nos toca profundamente, tudo o que não aceitamos e tentamos nos esquivar nos diz respeito e merece de nós uma reflexão profunda. Existe muito preconceito contra o envelhecer e isto precisa ser combatido. O processo de envelhecimento nos coloca frente a frente com a nossa finitude e infelizmente está culturalmente relacionado com o que não serve mais, com o ultrapassado, com o que está velho, inútil, inutilizado e colocado de lado. Não há nada mais errôneo. Todo preconceito é perigoso e precisa ser arrancado pela raiz. O idoso TEM MUITO POTENCIAL, o idoso sim tem muita experiencia de vida a ser passada para outras gerações, podendo ser muito produtivos. E eles são muito necessários. SEMPRE!

Aprender a arte do desapego:


Tememos e nos esquivamos constantemente de algo que está acontecendo o tempo todo: impermanência, velhice, finitude. Lutar contra o envelhecimento é como nadar contra a maré; em um momento a correnteza vence. Deste modo, é preciso aprender a arte do desapego da juventude, do que quer que seja! Contemple suas lembranças, mas as deixe no passado. Agora é hora de viver o presente, momento a momento. A velhice é uma fase propícia para profundas reflexões e ainda grandes aprendizados de vida. Quem chegou na Terceira Idade, chegou na idade da fênix, sendo este o momento propício para se reinventar, podendo ser uma fase extremamente rica e repleta de realizações. Na adultez, com a correria do dia a dia e a definição de tantas coisas na vida como carreira e formação de uma família e suas responsabilidades, talvez você não tivesse um tempo somente para si, para meditar, se espiritualizar, se autoconhecer, ler, assistir seu filme preferido, caminhar à beira mar, participar de rodas de conversa, deixar os pensamentos levar, refletir sobre sua vida enquanto contempla um céu estrelado. E caso você tenha chegado à Terceira Idade com Depressão, lutos e perdas mal elaboradas, busque apoio social e ajuda profissional. Sempre é tempo de recomeçar e ainda há esperança e felicidade do outro lado da porta. E’ só virar a chave.

Créditos da imagem de capa: Photo by Esther Ann on Unsplash 

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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