Não é de se surpreender que a pandemia trouxe à tona muitos sentimentos e estados emocionais, pois estamos vivenciando um momento de crise. Em meus atendimentos, uma queixa muito freqüente é o sentimento de angústia, da incerteza quanto ao futuro, do que vai acontecer, de como vai ser daqui para frente. Em algumas pessoas, associado à angústia está o sentimento de falta de perspectiva e inutilidade, provenientes de perdas significativas, seja a nível pessoal ou mesmo da posição em que estas pessoas ocupavam na vida social e interpessoal. Também temos o lado positivo deste panorama. Com a pandemia, algumas pessoas se reinventaram, colocaram metas e projetos em execução, aproveitando esta fase da quarentena de forma proativa e otimista para a concretização de antigos sonhos que na correria do dia a dia sempre foram postergados. No entanto, o que é recorrente e o que chama atenção é o embotamento emocional, a dificuldade em expressar sentimentos aflitivos, que, quando pontuados, se voltam principalmente para questionamentos de cunho existencial e pessoal. Discursos muito comuns trazidos para a terapia neste período são: “Meu futuro é incerto!”, “quem sou eu?”, “o que estou fazendo da minha vida?”, “o que será de mim?”, “como será daqui para frente?”
A maioria das pessoas relatam que no início da quarentena, o “isolamento social” trouxe uma sensação de aconchego, de encontro consigo, da reconstrução ou do resgate da convivência com os familiares, de uma maior conexão com os filhos que muitas vezes não era permitida na correria do dia a dia. Foi um momento propicio para organizar a casa, arrumar as gavetas e armários, de ordenar documentos e de rever situações pendentes no campo afetivo. E esta foi exatamente a questão: mexer no que estava “adormecido”, repensar sobre a vida que era mantida e nos automatismos do cotidiano. Ao mesmo tempo que foi libertador, trouxe consigo uma problematização da vida, com o aumento de conflitos familiares e da violência doméstica. Este momento de maior introspecção, de solitude, de organizar a “casa interna” possibilitou um estado de autoconscientização para importantes resoluções de vida. Todo este movimento de autopercepção, de revisão de valores e conceitos assustaram para alguns, fazendo com que a antiga rotina fizesse falta e a nostalgia se presentificasse.
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O que fazer diante desta problemática?
Neste período em que estamos enfrentando, é imprescindível o fortalecimento da resiliência, da capacidade de psicoadaptaçao, de retirar por um momento o foco das coisas negativas, daquilo que nos falta e agradecermos por aquilo que ainda temos, que ainda nos restou, do que está conosco. A retirada do foco na falta nos possibilita ressignificar sentimentos de desamparo e desespero, que são altamente paralisantes. Sabemos que o momento não está sendo fácil, que existem muitas perdas e impedimentos, mas com a prática destes 4 aspectos: o fortalecimento da resiliência, o foco na positividade, a conexão com a espiritualidade e a crença de que existe um propósito muito maior diante disso tudo que estamos enfrentando, são fatores de proteção para que nossa saúde mental não seja tão abalada. Vale à pena tentar estas dicas. Caso estados ansiosos ou depressivos estejam muito exacerbados, é momento de pensar em uma ajuda profissional.
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Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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