A apatia é uma sensação de esvaziamento interno, de insensibilidade, indiferença, impaciência, irritabilidade, letargia, sensação de exaustão e conseqüentemente desligamento emocional de pessoas e atividades. Tudo perde o sentido na apatia, a desmotivação toma de conta, a pessoa não vê perspectiva no futuro e para ela o que fizer, não trará resultados. Por este motivo, a pessoa evita fazer qualquer coisa, pois como acredita que o que ela faz não resulta em nada, obviamente ela evita fazê-lo, pois se algo der errado mais uma vez, apenas reforçaria ainda mais sua sensação de fracasso, uma espécie de auto profecia comprobatória. Desde 2020, em meus atendimentos clínicos, a apatia esteve presente em praticamente 80% das queixas, fazendo parte de algum transtorno como sintoma deste, ou mesmo “isolada”.

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A pessoa com apatia tem uma sensação de vulnerabilidade e de auto abandono, não encontrando sentido nenhum para se levantar da cama pela manha. Na terapia do Esquema, poderíamos dizer que ela ativou o protetor desligado, na terapia cognitivo comportamental, explica-se que ela entrou em desamparo aprendido, na psicanálise há uma pulsão para Thanatos, para o descanso, o mórbido. Não importando a explicação de cada abordagem, fato é que uma pessoa que está enfrentando um momento de apatia não tem brilho nos olhos, não vê sentido em nada, está em sono letárgico da alma, se desligando da vida e neste caso, desesperança é a palavra de ordem. E embora haja muito sofrimento, isto acontece como mecanismo de proteção, sistema de defesa psíquico, onde a pessoa precisa se distanciar ou melhor dizendo, se desligar mesmo de tudo para não reforçar crenças negativas sobre si. Por outro lado, este desligamento tem também um aspecto negativo, que é o de evitar novas vivências que possam ser gratificantes de modo a contrabalançar as experiencias negativas. Quando a pessoa se desliga, ela fecha as portas para a ressignificaçao e este é um ponto delicado, pressuposto para adentrar em uma Depressão propriamente dita, pois a apatia anda de mãos dadas com estados depressivos.

Apatia não é uma escolha, não é um posicionamento, não é uma maneira de olhar e viver a vida, tampouco é frescura de quem não tem o que fazer. A pessoa está em sofrimento sim, exausta sim, esgotada por demais. Torna-se necessário muita psicoeducaçao para a pessoa e para quem vive com ela, pois muitas vezes por não saber o que acontece consigo mesmo, a própria pessoa se sente culpada por estar naquela situação, sendo reforçado pelo julgamento de familiares, que não compreendem o que é apatia, como e quando acontece e quais suas conseqüências.

O desligamento vai acontecendo na “surdina” e quando menos se espera, a apatia é a companheira indesejável. Por este motivo, é muito importante não julgar e sim oferecer ajuda e compreensão. Caso você tenha algum familiar que sofre de apatia, é muito importante a realização de exames de sangue para verificar anemia, problemas na tireóide, dentre outras condições fisiológicas que precisam ser avaliadas. No aspecto psicológico, é preciso procurar ajuda para compreender seus estados emocionais, os gatilhos que promoveram e que reforçam aquele estado apático, bem como ressignificar vivencias que não foram bem digeridas. Para tudo tem um jeito, uma saída, o importante é não se entregar, não se deixar levar, não se perder de si mesmo e tentar sair desta condição. E se estiver muito difícil faze-lo sozinho, não deixe de acionar sua rede de apoio social e de buscar ajuda profissional. E lembre-se, o tempo não resolve nada, muito pelo contrário, só cronifica.

Importante: Quando me refiro a morte simbólica, não faço menção aos ciclos que se fecham em nossa vida, as fases que morrem e outras que nascem. Por exemplo, temos como morte simbólica, a passagem da infância para a adolescência ou a passagem do aluno do ensino médio para o ensino superior. Refiro-me especificamente neste texto à morte que acontece dentro de si, onde a pessoa se sente somente “na casca”, onde a única coisa que resta é o próprio esvaziamento, o desamparo, a dor existencial e por não ser uma morte física propriamente dita, a denominei aqui de morte simbólica ou existencial.

Abraços,

Soraya

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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