Todos sabemos que o coronavírus é uma doença altamente contagiosa e para conter a sua disseminação com o intuito de reduzir o número de infectados, medidas governamentais assertivas foram tomadas, tais como: fechamento de escolas, de estabelecimentos comerciais, restaurantes, redução e mesmo monitoração e fechamento de aeroportos. A vida lá fora foi praticamente cancelada e a nova ordem mundial é ficar em casa, tendo como objetivo frear o avanço da doença para a redução de novos casos de infecção. Estas medidas são justas, pois o coronavírus tem devastado vidas e a vida humana deve ser colocada sempre em primeiro plano. No entanto, a questão não pára por ai, ou seja, ao permanecermos em casa outros problemas surgiram e não menos significativos.

A medida da quarentena, dentre outras iniciativas, embora necessárias também trouxe suas conseqüências: O mundo virou de ponta cabeça deixando-nos todos num “salve-se quem puder”. É constatável que os principais aspectos da vida humana precisaram ser readaptados e agora a nossa resiliência está sendo mais que testada, visto que a pandemia não trouxe apenas desdobramentos na economia e na rotina, mas também conseqüências na saúde mental das pessoas. E se casos de transtornos ansiosos e depressivos já eram alarmantes no mundo inteiro, agora mais que nunca com a retirada de recursos essenciais da vida humana, a saúde mental da população precisa ser considerada com a mesma intensidade de como é tratado o coronavírus. Mas, até agora que medidas foram tomadas para quem não tem mais nenhuma perspectiva de vida? E não me refiro somente da vida que as pessoas tinham antes, com suas rotinas e desempenhando suas tarefas, mas da perspectiva de vida das pessoas que sofrem de Depressão. O que tem sido feito para conter o avanço dos casos de Depressão que igualmente são devastantes e alarmantes?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): A Depressão é até 2020 a principal causa de incapacitaçao no mundo, sendo também causa importante de suicídio. Dados da OMS averiguaram que no ano de 2019 aproximadamente 322 milhões de pessoas no mundo estavam sofrendo de Depressão e em 2020 provavelmente ocorreu um aumento significativo de casos. Isto porque em meio à pandemia, ocorreram mortes, luto, dor e perdas de todos os tipos. No entanto, quais medidas e iniciativas foram tomadas para a redução de casos de Depressão no mundo? Como uma mudança tão drástica na vida das pessoas, incluindo o confinamento social, não aumentariam estas estatísticas?

Razões não faltam e estas são verificáveis em nosso dia a dia:

Muitas empresas fecharam suas portas deixando um grande número de desempregados e com o desemprego os índices de violência aumentam. Os empregadores estão com altas dívidas, profissionais liberais se encontram de mãos atadas esperando um suporte para sustentar suas famílias, crianças estão sem estudar, salvo algumas escolas que apresentam a modalidade online para dar continuidade a suas tarefas na medida do possível. Os casos de violência doméstica aumentaram. E enquanto os acontecimentos se desenrolam, algumas pessoas procuram estratégias para se readaptarem, para se reinventarem, para driblarem a crise mundial e a própria crise instalada em si e em suas famílias. Dentre estes desdobramentos, estamos tendo a oportunidade única de estreitarmos os laços familiares, de resolvermos questões pendentes, de nos conectarmos verdadeiramente com o que de fato é prioridade. Mas observando este panorama por outras perspectivas, verificamos que não somente a economia mundial foi afetada, mas também a economia da vida, principalmente para quem sofre de transtornos ansiosos e de humor. Se estamos priorizando a vida a todo custo, o que poderíamos fazer com uma vida sem sentido e sem nenhuma perspectiva como é no caso da Depressão?

Os sintomas do coronavírus são bem conhecidos, os da Depressão também. Sintomas do coronavírus como febre, tosse, problemas respiratórios e cardiovasculares são detectáveis e compreensíveis por todos e em nenhum momento estou colocando em jogo que mereçam a devida atenção, isto é incontestável, pois não conhecemos ainda as reais repercussões de um vírus até então desconhecido e que trouxe consequencias devastantes para a população. Mas, e a Depressão? Sintomas como letargia, anedonia, desmotivação, medo, desesperança, baixa autoestima e a tentativa de suicidio não são tão detectáveis como uma febre ou tosse? Sintomas depressivos nem sempre são mensuráveis e tampouco recebem tanta aceitação e acolhimento até dos mais próximos, mas já sabemos que apresentam também alto índice de mortalidade. E esta morte quando não é real, é existencial.

Diante de tantas perdas, mudanças impactantes na rotina e falta de sentido na vida que são gatilhos geradores de transtornos mentais, o que se tem feito? E quanto aos dados alarmantes de Depressão no mundo estimados pela OMS e agora aglutinados com perdas constantes e lutos mal elaborados constatados dia após dia? Será que isto não merece a devida importância também visto que comprometem e devastam a vida?

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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