O mundo emocional é um desafio constante em algum nível para todos nós. Nomear, reconhecer e lidar com a raiva, com a tristeza, com o medo por exemplo, requer habilidade, visto que o processo de regulação emocional não é inato mas aprendido. E como já expliquei em outros artigos, não existe controle das emoções, mas sim manejo. O que temos controle é sobre as nossas decisões perante os desafios emocionais e isto requer muita autorresponsabilidade bem como para com as outras pessoas perante nossos comportamentos diante das situações.
Por que não podemos controlar nossas emoções?
Não é possível controlar as nossas emoções, mas sim administrá-las. Isso acontece porque as emoções é uma resposta instintiva, biológica e evolutiva ou seja, antes de se ter consciência da raiva, aconteceram várias sensações fisiológicas e hormonais para que a mesma viesse à tona. Contudo, o que você vai fazer com a raiva faz toda a diferença: esbravejar, “chutar o balde”, dizer pouca e boas? Ou ponderar, respirar fundo, dar um tempo, sair para dar uma volta. Essa gestão é importante pois neste ultimo caso percebe-se que a pessoa já se conscientizou que cada ação traz conseqüências, seja no aspecto pessoal que social. Em outras palavras, embora você não tenha controle em sentir suas emoções, você tem controle e muita responsabilidade de como reagir a elas. Isto acontece porque como um eco, cada ação, cada comportamento, cada postura irá retornar de alguma forma na contra-reação da pessoa ou dos limites de civilidade impostos pela sociedade. Não consegue manejar a raiva e tem comportamentos impulsivos? A psicoterapia pode te ajudar a regular suas emoções.
Outro exemplo é o susto. Você está dirigindo e de repente uma pessoa sai correndo no meio da estrada. Nesse momento, gatilhos internos e externos fazem com que você sinta suores frios, nó na garganta, palpitações, enrijecimento muscular, pupilas dilatadas e o arco reflexo do freio. Todo este processo aconteceu em segundos! Não há controle.
Foto de Andrea Piacquadio no Pexels
Por tudo o que foi dito, você observa que as emoções são reações instintivas carregadas de sensações corporais as quais não temos comando. Elas acontecem e pronto.
Durante nossa infância fomos educados a não expressar algumas emoções, como a raiva por exemplo. Em alguns casos, a criança não pode ser criança, tem que se comportar como um adulto e assim vamos reprimindo nossas emoções e nos afastando delas. Este afastamento é prejudicial, já que tudo que nos é desconhecido, falta manejo. Em muitos casos, na infância, a manifestação da raiva foi tolhida e com ela a impossibilidade em regulá-la. Por reprimi-la, ela desaparece? Não, muito pelo contrário, ela vai se manifestar em doenças psicossomáticas. Uma pessoa pode passar muito tempo sentindo raiva de alguma situação, provavelmente abusiva, mas não a reconhece, tampouco valida, o que faz com que não haja por parte da pessoa uma conexão entre a raiva sentida e sensações corporais desagradáveis. O resultado disso pode ser o desenvolvimento de uma gastrite nervosa, por exemplo.
Sendo assim, porque cada emoção primária existe?
Todas as emoções têm função protetiva na medida certa. Por esse motivo, a importância da regulação emocional. Vamos compreender melhor a função de cada emoção:
Medo: O medo é protetivo e você o sente em situações de perigo iminente que põe em risco sua vida. O medo é visto por muitas pessoas como uma emoção negativa. Mas, você já imaginou em quantas situações perigosas ou ameaçadoras você poderia se envolver caso não sentisse medo? Da mesma forma, o medo demasiado é paralisante, podendo causar pavor e pânico, sendo portanto disfuncional e causando sofrimento.
Raiva: Sentimos raiva quando nos sentimos ameaçados, desrespeitados, injustiçados ou lesados em nossos direitos. A raiva nos movimenta para lutar por respeito ou igualdade, por exemplo. Caso esteja sentindo raiva, não se sinta culpado por senti-la. Você não sente raiva à toa e portanto tente compreender a mensagem que esta emoção te traz. Da mesma forma, a raiva descontrolada é disfuncional, podendo causar sérios problemas pessoais, interpessoais e sociais.
Tristeza: Assim como o medo e a raiva, a tristeza é percebida por muitos como uma emoção negativa, mas não é. Irei justificar ponto por ponto. Mas diante dessa informação você deve estar pensando: quando perdemos algo ou alguém nos bate aquele mal-estar, aquela vontade de desaparecer, choramos, nos sentimos para baixo. Como isso tudo pode ser positivo? Não é somente positivo e acrescento que também é saudável. A tristeza tenta regular nosso emocional, elaborando de alguma forma um ciclo que fechou, pessoas que saíram da nossa vida por morte, a aceitação e elaboração da irreversibilidade de algumas coisas, as perdas da vida. No caso daquilo que há reversibilidade, a tristeza nos leva no mais profundo do nosso ser para avaliar a situação, fazendo-nos refletir e reunir todas as nossas forças na busca de uma solução para aquele problema. Nesse momento, buscamos ajuda. Da mesma forma, quando a tristeza é exacerbada, pode levar à melancolia e a estados depressivos, sendo disfuncional, pois já nesse ultimo caso não nos impulsionaria para a reflexão, insatisfação e busca de uma solução para aquilo que nos entristece.
Alegria: Sensações como completude, serenidade e satisfação estão associadas com a alegria. Esta emoção nos dá o brilho de viver, estimula e consolida os laços interpessoais e nos motiva para a vida. A alegria traz colorido, sorriso no rosto e brilho nos olhos. Mas do mesmo modo essa emoção considerada por muitos como “positiva” traz também seu aspecto negativo quando se transforma em euforia ou frustração. E você já sabe que tudo em excesso pode trazer prejuízos. A pessoa eufórica perde a noção da realidade, acredita que tudo pode, gasta o que não tem, se coloca em situações de risco por conta da impulsividade que a euforia traz. E quando as conseqüências chegam geram sentimento de frustração, tristeza, culpa e desespero.
Você pode verificar que não existem emoções negativas ou positivas, mas sim emoções funcionais e disfuncionais. As emoções existem por uma função evolutiva e protetiva, elas tem um porque de serem sentidas e precisam de atenção, pois cada uma delas traz um comunicado. E você, como tem lidado com suas emoções?
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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