Todos apresentamos algo em comum: estamos nesta vida em uma situação de vulnerabilidade, de suscetibilidade; nunca saberemos o que acontecerá amanhã ou mesmo daqui alguns instantes. Será que de fato somos autossuficientes? A vida apresenta tamanha fragilidade que não comporta o peso da arrogância e do orgulho tão comuns em nossas condutas.
A vida, em sua sabedoria não nos concedeu autonomia total exatamente para que através desta condição de fragilidade, tenhamos a oportunidade de desenvolver a solidariedade e o amor ao próximo. Sim, somos todos frágeis. De uma hora para outra a vida poderá mudar drasticamente, seja através de uma doença, um acidente ou perdas de todas as espécies, levando com elas as certezas que nos mantínhamos seguros e adaptados. Mas seguros exatamente do que? Acontecimentos podem mudar completamente a rota de nossas vidas exigindo-nos novas adaptações e aprendizados.
Infelizmente, o ser humano não aprendeu que nos tornamos mais fortes quando nos damos as mãos, quando somos empáticos com a condição do outro, situação que quiçá poderá ser exatamente a nossa em um futuro vindouro. Cedo ou tarde a vida cobrará nossas posturas, não por vingança, mas por metodologia educativa, visto que o progresso é o caminho e o objetivo de todos é a evolução do ser. E não há como fugir: cada ação nos encontrará na curva da estrada; ninguém planta limões esperando colher morangos; ninguém espera colher carinho e aconchego onde semeou negligência e rejeição.
As regras são tão simples, claras e consistentes em suas demonstrações, mas reiteramos em não reconhece-las, muito menos respeitá-las. Às vezes não custa nada sermos gentis, amorosos, acolhedores ou atenciosos com um ser que naquele momento está sendo testado pela vida (ou não necessariamente). Tantas vezes uma palavra de conforto, um olhar, um abraço ou um aperto de mão demonstram a importância que temos para o outro num enlace de humanidade. Sentir-se compreendido e acolhido reconforta sobremaneira o nosso lar interno, aquecendo a lareira do nosso coração, nos inspirando em melodias enternecedoras nos tons da esperança e da paz de espírito.
No entanto, a questão não se delimita somente aos valores morais que precisamos cultivar, vai muito mais além. Quando somos indulgentes para com o outro, estaremos facilitando para este vivências que permitirão o desenvolvimento de representações mentais de benevolência em seu repertório psíquico que de alguma maneira ou em alguma circunstância beneficiará a outra pessoa e conseqüentemente o mundo, pois hoje em dia gestos de carinho e solidariedade genuínos são os produtos mais raros e caros que podem existir.
E apesar do seu alto valor, eles não se encontram em vitrines de luxo, mas somente em corações nobres.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
É… uma boa parte das pessoas só aprendem ou dão valor as coisas nos momentos em que ficam bem debilitadas ou incapacitadas, ao passo que, no dia a dia “normal”, dão espaço e valorizam o orgulho e outras coisas que só trazem prejuízo. Mas é compreensível, pois em nossa “essência social”, somos indivíduos egoístas.