Caminhando à beira-mar ao entardecer, observo as nuvens que se encontram e se dissolvem, o que me faz perceber o quanto a vida é fugidia, frágil e impermanente, o quanto por desfortuna deixamos de viver algumas coisas que a vida sequer nos permitiu, por qual motivo for: por desencontros, não-encontros, escolhas ou do que fugiu do nosso alcance decidir.

As nuvens matizadas pelo por do sol que se recolhe esplêndido e tímido, adverte sutilmente que em nosso frenesi, quantas coisas passam por nós despercebidas, como se estivéssemos desconectados do agora. Quantos lugares deixamos de ver, quantas pessoas deixamos de conhecer, principalmente aquelas que “desembrulham” os recônditos da alma e que nos tiram as vendas de nossos olhos como quem nos mostra um presente que estava guardado dentro de nós, aspectos que precisavam ser (re)descobertos, sentidos e vividos de maneira intensa. E não estou especificamente falando de relacionamentos amorosos, mas do inusitado que nos desperta de uma espécie de “sono letárgico” e que podem ser pequenas coisas e grandes pessoas.

Algumas pessoas nos fazem uma verdadeira “catarse” que vai muito além do sentir profundo e visceral, diria um verdadeiro mergulho no mar da própria alma em sua maior profundidade para viver um pedacinho de céu, para conhecer aspectos que sequer desconfiávamos e que estavam aqui dentro, do desabrochar colorido de sentimentos que se mesclam e se acendem com uma pitada de fatalidade e com sabor de eterno, de uma certa forma até de um saudosismo do que se poderia ter vivido.

 

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Muitas coisas vêm e vão, escapam das nossas mãos e assim a vida vai fluindo em sua sacralidade. Tudo o que acontece à nossa volta é um milagre único e irreprisavel e por isso precisamos estar atentos aos incessantes presentes que a vida nos oferece principalmente em forma de pessoas e situações inesperadas que atravessam o nosso caminho e despertam algo em nós. Poucas coisas são tão singelas quando inesperadamente nos sentimos atravessados pelo olhar do outro que nos espelham verdades que nos dizem tanto a respeito de nós.

Portanto, se deixe acariciar pela brisa, sinta a vivacidade do calor do sol, seus pés na areia escorregadia ao caminhar à beira-mar; conecte-se com a natureza que é parte sua, colha o dia, celebre o sagrado da vida! Aqui, o carpe diem não tem aquela conotação de irresponsabilidade, hedonismo, imediatismo, descartabilidade ou de que devemos aproveitar ao máximo o aqui e o agora de maneira impensada, irresponsável ou “inconsciente”, mas sim do agora, deste momento enquanto o sagrado que se manifesta.

E que sim, o fugidio e o impermanente fazem parte da vida, não para que vivamos de uma maneira impensada, desenfreada ou destituídos de valores, mas para que vivamos conectados no que nos acontece aqui e agora, para nos entrelaçarmos com o que nos toca a cada momento, percebendo o sagrado que habita em nós através do nosso despertar mais profundo das coisas mais simples da vida, como o por do sol ou a primeira estrela que aparece cintilante enquanto anoitece. E que um dia você possa olhar a própria vida e constate que cada coisa vivida valeu a pena, sem pendências, sem arrependimentos do que não falou, do que deixou de fazer ou viver.

Portanto, celebre e brinde a vida, comemore a sacralidade de cada momento, pois tudo está fluindo, se transmutando, adquirindo novas formas o tempo todo e isso é fato, sem nenhuma crítica de quem possa ter um outro olhar ou de que esta seja a única verdade.
Carpe diem, colha o dia, celebre a vida! O que vamos fazer disso num sentido mais profundo vai depender de cada um de nós e isso é o que realmente importa.

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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