O estresse negativo ou de exaustão é gerado por uma resposta corporal e neurovegetativa causada por situações “adversas” chamadas agentes estressores ou desencadeadores de estresse. Dentre as situações mais comuns, temos: a correria do dia-a-dia, a pressão constante e excessiva no ambiente de trabalho, a violência, as perdas de todos os tipos, não reservar um tempo para atividades prazerosas e gratificantes, auto cobrança excessiva da própria performance nas atividades de estudo ou trabalho, competitividade, rotina mal administrada, fazer muitas atividades ao mesmo tempo, dentre outras. A correria do dia-a-dia e o desrespeito aos comandos do corpo de “pedido” de descanso e de sono, podem desencadear processos inflamatórios e autoimunes.
Para contextualizar o tema, gostaria de abordar um famoso provérbio japonês que diz: ” Treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, viva o que eles sonham”.
Muitas pessoas tem se inspirado neste provérbio, mas por detrás de uma reflexão aparentemente motivadora, se esconde uma desvantagem. Até que ponto este pensamento traria danos para a saúde mental? Este provérbio seria apropriado e verdadeiro enquanto fonte de motivação e energia no cumprimento de metas, mas é perigoso e ilegitimo caso não se respeite o equilíbrio e os limites de exaustão psicofísica e a necessidade de repouso para “recarregar as baterias” depois de um certo tempo de trabalho. Infelizmente, muitas pessoas “seguem à risca” este provérbio, trazendo prejuízos funcionais e comportamentais e conseqüentemente sendo a origem de muitas doenças oriundas do estresse de exaustão. Muitos estudantes passam noites em claro ao invés de ter um planejamento de estudo, trabalhadores ultrapassam 16 horas de trabalho e se possível, ainda compram as férias, não se dando uma oportunidade de pausa, podendo desencadear a Síndrome de Burnout.
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“Treine enquanto eles dormem” – pode significar não dormir, e privação de sono acarreta uma série de doenças.
“Estude enquanto eles se divertem” – pode significar não se autorizar, não se dar o direito a uma pausa, ao descanso necessário e já é provado que a qualidade, bem como a produção aumenta, quando se sabe administrar os momentos de pausa, visto que a mesma é tão importante quanto o trabalho.
“Persistam enquanto eles descansam” – Na mesma linha de raciocínio da frase anterior, pode significar que para obter resultados satisfatórios, o trabalho precisa ser extenuante até o esgotamento e isto não é verdade. Reitero que podemos sim obter excelentes resultados com um planejamento criterioso e equilibrado, onde são respeitados os limites do nosso corpo.
” Viva o que eles sonham”- Como resultante das frases anteriores, para realizar seus sonhos, você não teria direito à qualidade de vida. Será que não seria exatamente o contrário?
Não estou fazendo apologia à falta de compromisso, ao desleixo ou displicência, mas ninguém precisa adoecer para conquistar o que for nesta vida, lembrando que sem saúde pouco ou nada se faz. Não há preço que pague nossa saúde e qualidade de vida.
O estresse é uma epidemia mundial
Como foi dito anteriormente, o estresse, até certo ponto é motivador e energizante, bem como um mecanismo de defesa importante do organismo, sendo um excelente termômetro que aponta algum desequilíbrio no organismo. Contudo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o estresse é uma epidemia global, uma doença que atinge mais de 90% da população do mundo e que, em seu aspecto negativo, pode ocasionar várias doenças. Por outras palavras, se colocarmos 10 pessoas em uma sala, 9 sofrerão os efeitos negativos do estresse. Esta é uma taxa descomunal, mas verdadeira.
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Existem 3 tipos de estresse (APA- Associaçao Americana de Psicologia):
Estresse Agudo:
O Transtorno do Estresse Agudo é pontual, sendo uma resposta instintiva diante de ameaças, principalmente da vida, aumentando a ansiedade e tendo como objetivo “fugir” ou “atacar”. Este tipo de estresse está diretamente relacionado a algum trauma, como um assalto, estupro, perda abrupta, mudanças repentinas, sequestro, violência de todos os tipos, o que pode a levar a pessoa a um estado de choque. O trauma pode ser vivenciado direta ou indiretamente. Caso não seja superado, após 4 semanas do evento estressor, este tipo de estresse pode evoluir para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).
No Estresse Agudo, estão presentes os sintomas a seguir:
1- Dores de cabeça;
2- Ativação psíquica;
3- Dor mandibular;
4- Apreensão e angústia;
5- Problemas gastrointestinais;
6- Problemas cardiovasculares;
Estresse Agudo Episódico:
Aqui, como o próprio nome sugere, os sintomas do estresse não são pontuais, mas episódicos. Os episódios contínuos de estresse podem levar ao estresse crônico. Aqui, a irritabilidade, o sentimento de urgência e o pessimismo são uma constante, podendo ocorrer também comportamentos impulsivos, falta de controle e ataques de raiva. Todos os sintomas do Estresse Agudo Episódico são iguais aos do Estresse Agudo, porém mais freqüentes e caricaturados.
Estresse crônico:
A pandemia aumentou significativamente esta tipologia de estresse. O estresse, quando cronificado está diretamente relacionado às doenças psicossomáticas, visto que o estresse acumulado e mal administrado irá agir negativamente e afetar diretamente os chamados “órgãos de choque” e que são personalizados, ou seja, cada pessoa tem um órgão mais fragilizado. Sendo assim, o estresse constante em uma pessoa pode afetar o estômago, desencadeando uma gastrite nervosa, já em outra pode afetar a pele, ocasionando acne ou psoríase. Dentre as doenças mais comuns ocasionadas pelo estresse crônico temos a insonia, a compulsão alimentar (para aliviar a tensão), problemas cardiovasculares, cardiopatias, doenças da pele, encoprese (prisão de ventre), Ansiedade e Depressão.
A importância da Psicoterapia:
Nos 3 tipos de estresse, a psicoterapia de suporte é fundamental. No processo psicoterapêutico são identificados os gatilhos do estresse e a aprendizagem no manejo deste no dia-a-dia.
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Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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