A tríade negativa ou tríade cognitiva da depressão faz referência a 3 aspectos importantes que norteiam os pensamentos e crenças disfuncionais do paciente depressivo. Estas são: acerca de si mesmo, do mundo que o cerca e do seu futuro. Explicarei ponto por ponto cada aspecto.

1- Visão negativa sobre si mesmo:

A pessoa não se vê capacitada para conduzir a própria vida, se sente fracassada, inadequada, com a autoestima baixa, percebendo que o que ela faz não tem valor algum. O sentimento de inadequação faz com que a pessoa se distancie de eventos, amigos, bem como da possibilidade de fazer novas amizades, de ampliar seu universo relacional. Existe muita autocritica e autodesvalorização. Há recorrência de pensamentos sabotadores automáticos de fracasso, de que nada vai dar certo por mais que se tente. Com relação a seus objetivos, percebe que por mais que faça, seus esforços não terão êxito. Há muitas distorções cognitivas que precisam ser trabalhadas acerca de si mesmo, do autovalor e de próprias capacidades.

2- Visão negativa do mundo:

A pessoa percebe o mundo como hostil, catastrófico, competitivo e sem nenhuma perspectiva. Esta percepção negativa abrange também seus relacionamentos e ambiente de trabalho. Acredita que as pessoas não gostam dela, que a evitam, desrespeitam e desvalorizam. Os relacionamentos interpessoais são complicados e permeados por mecanismos de defesa diante de situações simples e fáceis de serem solucionadas. Por mais que seja capacitada, a pessoa não se percebe capaz de exercer tarefas. Por este motivo, deixa de participar de processos seletivos laborais ou de se promover na carreira.

3- Visão negativa do futuro:

A pessoa não vislumbra uma perspectiva de futuro, havendo muita desesperança, sentimento de que as coisas não irão mudar e de que tudo foi tempo perdido. E’ imprescindível que o psicólogo perscrute este aspecto, visto que a falta de esperança está diretamente associada ao vazio existencial ou perda de sentido na vida, estando diretamente associados a ideação e/ou ação suicida, pois na lógica do paciente, quem não tem o que esperar na vida, não há sentido em continuar vivendo. Portanto, medidas para prevenir o suicídio precisam ser tomadas.

A visão de si, do mundo e do futuro estão diretamente associadas e se retroalimentam, sendo necessário proceder a uma reestruturação cognitiva, ressignificando os pensamentos e crenças disfuncionais por outros mais saudáveis (funcionais). A pessoa com Depressão catastrofiza e antecipa os piores acontecimentos, que muitas vezes acabam indo mal, o que confirma a sua crença sobre si e da vida, cronificando ainda mais a depressão. Por este motivo, os pensamentos, regras e crenças da pessoa precisam ser trabalhados em psicoterapia.

Foto de Liza Summer no Pexels

A Depressão está diretamente relacionada a determinadas distorções cognitivas que são: a inferência arbitrária, a abstração seletiva (ou visão de túnel), a supergeneralizaçao e a personalização (geralmente no aspecto negativo).

1- Inferência arbitrária:

A pessoa chega a uma conclusão definitiva sem evidências suficientes que a comprovem. A pessoa faz conclusões em base às suas crenças e experiencias anteriores. Exemplo: Tenho uma aula para apresentar e tenho certeza que irei me dar mal, que todos vão rir de mim ou dirão que foi a pior aula que já assistiram.

2- Abstração seletiva (ou visão de túnel):

A pessoa tem uma visão de túnel somente percebendo os aspectos negativos e abstraindo os aspectos positivos. Em outras palavras, o foco é no aspecto negativo, sendo desconsiderado todo um contexto. Exemplo: Seu namorado sempre responde pontualmente suas mensagens no Whattsap. Em um determinado dia vocè envia uma mensagem para seu namorado através da mesma rede social, mas ele nao responde. Ele estava online, mas logo em seguida, passa a offline.

A pessoa com essa distorção cognitiva já pensa inúmeras coisas sem nenhuma evidência plausível: se o namorado está com raiva, se está desinteressado, se estava falando com outra pessoa. Passa 1h e nada de resposta. Então, você fica furiosa, sendo criado um clima de tensão que pode ocasionar uma briga. Existem muitas possibilidades para o acontecido: a internet ficou fora do ar, teve que resolver algo urgente às pressas, naquele momento precisava agir com urgência. Através do diálogo e de uma comunicação assertiva se pode saber o que de fato aconteceu, pois pensamentos não são fatos.

3- Supergeneralizaçao:

A pessoa tende a generalizar suas experiências como se fosse uma regra, um fato incontestável. Utilizando o exemplo anterior do mal-estar pela falta de uma resposta no zap, o namorado é acusado que estava falando com outra, vocês discutem e você decide romper a relação. Na supergeneralizaçao você não quer mais se relacionar com ninguém, porque sabe que vai acabar em traição e separação. Contudo, nem todos agirão da mesma forma, e caso isto seja um padrão com você, é preciso verificar quais comportamentos você emite para que esse padrão permaneça.

4- Personalização:

A pessoa acredita ser culpada por alguma circunstância na qual ela pode sequer estar envolvida. Por exemplo, um amigo sofreu um acidente e a pessoa se sente culpada porque acredita que poderia ter evitado o acidente, caso tivesse convidado o amigo para um café. Ou, se o casamento fracassou foi somente culpa dela, sem perceber que um relacionamento é construído e vivido a dois, portanto, ambos são responsáveis.

Percebe o quão é importante que os pensamentos automáticos, as distorções cognitivas e as crenças precisam ser sempre criteriosamente avaliadas. Elas evitam culpa, sofrimento e melhoram as relações interpessoais e a qualidade da sua vida. Para alcançar esses objetivos, é necessária a prática da avaliação, do questionamento lógico, da observação de possíveis explicações que sejam funcionais para o que acontece, sempre pautado em dados concretos.

Para quem quiser aprofundar nesta temática, escrevi um artigo explicando as principais distorções cognitivas detalhadamente.

Segue link: Principais distorções cognitivas 

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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