Em algum momento você já leu, viu uma imagem ou foi informado através da mídia do famoso mito de que as mulheres possuem a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo? Enquanto a super mulher tenta consolar o filho no braço que não para de chorar, faz o mingau, atende ao telefone e ainda consegue escutar as ultimas noticias pelo rádio, para o homem isto não seria possível. Será que de fato a mulher teria essa capacidade multifuncional? Alguns estudos científicos afirmam que sim, justificando esta informação no fato de que a mulher teria mais conexões entre o hemisfério direito e o esquerdo em comparação ao cérebro do homem. Sendo assim, elas seriam mais estratégicas na resolução de um problema maior, enquanto poderiam desempenhar concomitantemente problemas mais simples e que mais uma vez isso para o homem seria mais difícil ou mesmo inviável. Mas será que de fato isso é verdade ou a defesa desta tese poderia ter um outro objetivo: fazer com que a mulher acredite que tem essa capacidade para que desempenhe mais tarefas, para que sejam mais produtivas? Conheço mulheres que sequer se autorizam a sentar-se no sofá para assistir um pouco a televisão, ficando em pé mesmo, como se tivessem em sobreaviso.

Sem adentrar no mérito da questão de pesquisas acerca deste assunto, fato é que na vida prática, na rotina mesmo, a crença do multitasking feminino tem sobrecarregado e muito as mulheres a ponto de comprometer sua saúde mental, estando estas mais propensas a desenvolver estresse crônico, ansiedade e doenças psicossomáticas. Além disso, geralmente elas desenvolvem também culpa, frustração e a crença na própria ineficiência por não dar conta deste estereotipo a elas atribuido, baixando sua autoestima.


Explicarei a seguir ponto por ponto acerca do perigo desta crença difundida há décadas como verdade e suas conseqüências prejudiciais para a saúde física, mental e emocional da mulher.

Conseqüências devastadoras da crença da capacidade de multitarefas na mulher:

1- Estresse crônico e ansiedade:

O cérebro apresenta dificuldades em focar em duas ou mais tarefas ao mesmo tempo e independente do gênero, ele somente consegue focar em uma coisa de cada vez, enquanto para atividades secundárias, esta capacidade estaria bastante reduzida. Trazendo o exemplo do início do texto, a mulher poderia ter como foco principal procurar estratégias para acalmar a criança que chora, mas a probabilidade de queimar o mingau, ou pior, de queimar a criança entrariam em jogo, enquanto provavelmente o telefone cairia de sua mão. Em uma rotina diária enlouquecedora onde a mulher precisa trabalhar fora, cumprir as obrigações de casa, cuidar das crianças e ainda providenciar o necessário para o bom funcionamento de um lar, como a organização do pagamento de contas e as despesas de supermercado, o resultado não seria outro: hipervigilancia, inquietação, nervosismo, impaciência, angustia, problemas cognitivos, como dificuldade de concentração e lapsos de memória. Resultado de tudo isso: o desenvolvimento de um estresse crônico e/ou ansiedade. Portanto, delegue tarefas, distribua as atividades com todos que moram na casa, eles são familiares, não são visitas, todos precisam se comprometer para manter uma casa organizada.

Foto de Engin Akyurt no Pexels

2- Doenças psicossomáticas:

Uma das causas do desenvolvimento de doenças psicossomáticas é a sobrecarga laboral. Trabalho é sempre trabalho e cansa. Portanto, esse discurso de que a mulher não faz nada, só fica em casa já caiu por terra há tempos, pois se tem um lugar que sempre tem algo a fazer é uma casa, principalmente se tiver criança e se a família for extensa. Além disso, hoje a maioria das mulheres precisam trabalhar fora para ajudar nas despesas do lar. Em outras palavras, trabalho dobrado. Então, começam a aparecer as alergias, enxaqueca, tensão e dores musculares, gastrite nervosa, resfriados freqüentes, dentre outras. Observe suas limitações.

3- Culpa, frustração e sentimento de ineficácia:

Se pesquisas indicam que a mulher tem a capacidade de ser multitarefa e se ela não consegue ter ou manter esse estereótipo de mulher maravilha, ela provavelmente irá concluir que há algo de errado com ela. A difusão da ideia de que a mulher consegue dar conta do lar, dos filhos e ainda trabalhar fora é fonte de culpa, frustração e sentimento de ineficácia. Por que algumas conseguem e outras não? A pergunta que não quer calar é: aquelas que conseguem como o fazem e a troco do que? Colocando em jogo sua saúde física, mental e emocional?


Mulheres não conseguem fazer várias tarefas ao mesmo tempo e isso não se trata de incapacidade ou habilidade que precisa ser desenvolvida, muito pelo contrário, esse é o caminho mais curto e efetivo para uma estafa mental. Por este motivo, reitero: aprenda a organizar e dividir tarefas, se dê pausas, você é um ser humano com limitações e dificuldades. Mantenha em dia suas atividades e responsabilidades, mas também não esqueça de pedir ajuda e suporte quando for necessário, de aceitar e abraçar sua humanidade.

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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