Alguns psicólogos defendem que o termo crise da meia-idade está ultrapassado e que o termo correto seria chamar de crises de maturação, visto que não se trataria de uma única “crise em bloco”, mas de pequenas e sucessivas crises sobrepostas geradas por condições estressoras internas e/ou externas. Embora não exista uma faixa etária especifica para angústias existenciais, em minha prática clinica, tenho observado em meu trabalho principalmente com mulheres, que esta crise vem como uma avalanche de questionamentos e sintomas entre os 40 e 50 anos de idade e por este motivo, prefiro mencionar aqui neste texto “crise de meia-idade”, termo criado por Elliott Jaques.
Mas, o que seria a crise da meia-idade? Aconteceria para todos?
A crise da meia-idade pode acontecer em ambos os sexos, compreendendo em linhas gerais um estado de contemplação das próprias vulnerabilidades, na qual a pessoa se depara com questões existenciais bastante características como sua própria finitude, a efemeridade das coisas, as escolhas feitas na vida, o que deu ou não certo e da constatação de que resta pouco tempo para recomeçar ou tentar concertar as insatisfações, caso este seja o projeto. A pessoa se percebe envelhecendo e devido a angústia que se instala, uma das estratégias para lidar com a situação é se recompensar repaginando a vida, como fazendo gastos com viagens, cirurgias (muitas vezes nunca antes pensadas) ou mesmo a mudança de parceiro. Vale a pena salientar que a “meia-idade” é um estágio do desenvolvimento que pode ou não acarretar uma crise e embora esta tenha características gerais, a crise da meia-idade apresentará suas peculiaridades de pessoa para pessoa, caso de fato aconteça e sempre estará associada a frustrações e insatisfações, a metas não atingidas, a sonhos não realizados, a contratempos no casamento, na profissão, no financeiro, dentre outros.
Os questionamentos mais comuns são: “O que fiz da minha vida até agora”? “Se tivesse a possibilidade de voltar no tempo, certamente faria escolhas mais acertadas, tudo seria diferente ou quase diferente!” ou ” Como será daqui para frente”?
Photo by Artem Kovalev on Unsplash
Muitas mulheres gostariam de “dar um tempo”, procurar descansar mais, se darem mais atenção, mais paz, para refletir sobre suas escolhas e as conseqüências destas, de fazer um belo “mergulho em si”, mas as responsabilidades assumidas no decorrer da vida e que muitas vezes ainda são vigentes não permitem este posicionamento de pausa. Na realidade, muitas delas não aprenderam a se priorizar em suas próprias vidas e quanto maior o impacto da crise, pressupõe-se que menor era o estado de saúde mental e emocional no decorrer da vida da pessoa até então, podendo muitas delas ter ansiedade ou depressão no decorrer da vida, por exemplo.
Quais as características e sintomas da crise da meia-idade?
A crise da meia-idade não chega repentinamente como se pensa, e como tudo na vida, a mesma vai sendo construída, vai chegando aos pouquinhos, sem nos darmos conta. O que acontece é que as pessoas não estão muito conectadas consigo e com suas necessidades e neste caso o que “denuncia” e dispara a crise já instalada é um fator estressor, um gatilho, como uma insatisfação ou frustração em alguma área da vida. Sentimentos de nostalgia e de vazio por um tempo que não voltará mais se tornam mais presentes. Estes sentimentos se configuram em comportamentos de busca por músicas que a pessoa gostava na infância e na adolescência, da lembrança do primeiro amor, do primeiro emprego, da vontade de recomeçar tudo de novo, de se reinventar ou quem sabe ser jovem outra vez, investindo em procedimentos estéticos. Memórias emocionais, nostalgia e incerteza com relação ao que virá são a marca registrada desse estágio que algumas vezes é acolhedor e na maioria das vezes nada tranqüilo. Há também contradições: algumas vezes muita pressa para correr atras do que não foi realizado, noutras um deixar-se ir pelas correntezas da vida.
De qualquer modo, é um estágio que, se manejado da melhor forma possível, com suas perdas, ganhos e conflitos, pode se converter em uma fase muito enriquecedora, através do autoconhecimento e a psicoterapia pode te ajudar.
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
Você precisa fazer login para comentar.