Em meus questionamentos, penso que ao nascermos contemos em nossas mãos algumas sementinhas das potencialidades do que seremos, do que precisamos desenvolver no decorrer de nossa vida para evoluirmos. Estamos ali agarrados, apegados a estas potencialidades, a este vir a ser. Quase nada está definido. Com o tempo, nossas mãos vão se abrindo para construir, ajudar, dar as mãos ao outro, elaborar, orar, plantar e adubar a nossa existência para depois nos desapegarmos e deixarmos aqui tudo o que foi construído e atribuído pretensamente como nosso.

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Isto porque sementes são do plano terra, daquilo que não permanece conosco, visto que são apenas doações transitórias concedidas pela vida como instrumental do nosso aprimoramento neste plano. Deste modo, todas as ilusões sonhadas e porventura realizadas serão nossas somente por uma brisa de tempo, um sopro de vida, numa sensação de eternidade impermanente, num mundo em constante transformação. Quando a vida é percebida através desta perspectiva, os valores se invertem, a vida se suaviza e ganha um novo sentido. Talvez a partir deste ponto possamos nos perceber em contagem regressiva, já que tudo na vida, inclusive nós retorna ao seu ponto de partida.

Na vida, temos muitas oportunidades para aprender a arte do desapego. No entanto, pouco vivemos o agora. Normalmente existem duas possibilidades: estamos enlaçados nos elos do passado ou seqüestrados pela dor não superada. Por conseguinte, sempre esperamos um novo amanha, uma nova oportunidade de ser feliz e que a vida nos sorria num “tempo ideal”. Estamos nostálgicos ou expectantes, sendo o “agora”, o hiato das nossas inquietudes e preocupações.

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Viver na expectativa do futuro de maneira preocupada é a força motriz geradora de desequilíbrios emocionais e existenciais. Precisamos compreender que desapegar-se não significa necessariamente ser indiferente ou irresponsável consigo, com os outros, com a vida. Estou a favor da possibilidade de uma vida que valha a pena ser vivida todos os dias com suas alegrias e mesmo com seus problemas e desafios, mas sempre com aquele desapego.

Precisamos nos lembrar que as verdadeiras conquistas são aquelas que carregamos na alma, não aquelas que carregamos nas mãos ou na bagagem. Na realidade, não existe absolutamente nada que nos pertença além de nós mesmos. Em vista disto, o maior arrependimento que um ser humano pode ter é aquele de não ter vivido plenamente, de não ter se pertencido. Todo o resto, num sentido existencial não são tão importantes, são apenas ilusões deixadas na poeira da estrada da vida onde nossos pés caminharam, onde nossas mãos plantaram, onde talvez nossas marcas ficaram. E somente isto, pois daqui não levaremos sequer o perfume das flores que adornaram os nossos jardins.

Portanto, desapegue-se. Lembre-se: nascemos de mãos fechadas, mas morremos de mãos abertas.

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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