As estratégias compensatórias são comportamentos que a pessoa emite para lidar com situações frustrantes e aversivas, estando diretamente relacionadas com os pensamentos automáticos e as crenças centrais da pessoa, e como o próprio nome sugere, objetivam compensar uma percepção ou crença através de um determinado comportamento em que a pessoa não sabe como lidar, o que fazer. O perigo reside no fato de que as estratégias compensatórias algumas vezes retroalimentam as crenças disfuncionais, fortalecendo-as e tornando-as mais inflexíveis. Para contextualizar esta explicação, citarei um caso clinico onde os sentimentos de inadequação e inferioridade sao trazidos pelo paciente como queixas principais. Vale a pena salientar que as estratégias compensatórias são parte importante na conceitualizaçao de um caso clinico.

Uma paciente X tem crença de inadequação, sentindo-se excluída em seu ambiente de trabalho e por esse motivo ela declina todos os convites que lhe são feitos para reuniões, festinhas, jantares deste grupo social. Ou se comparece, evita socializar-se. Ao esquivar-se do contato social, inicialmente sente alivio, tendo a convicção de que o problema foi resolvido, já que não entrou em contato com as contingências geradoras de ansiedade do ambiente. Contudo, esse comportamento aumenta ainda mais a desconexão entre essa pessoa e o grupo a qual “pertence”, e por receber diversos “naos” para os convites ou não se socializar, o grupo não a convida mais para os eventos. Deste modo, o comportamento de esquiva ou evitação fortalecerá ainda mais a crença de exclusão e inadequação, retroalimentando o problema e fortalecendo-o. Sendo assim, a pessoa confirma sua convicção que de fato é excluída e inadequada, pois se sente ainda mais desconectada do grupo, já que este não a convida mais para sair.

Esse caso é apenas um recorte para retratar como funciona as estratégias compensatórias, não entrando no mérito de um possível assédio moral no ambiente de trabalho. Resumindo o exemplo: a estratégia comportamental compensatória de esquivar-se dos convites foi disfuncional, pois tornou a crença de inadequação que a pessoa tinha sobre si mesma, mais enraizada e cristalizada, pois a mesma ficou mais distanciada do grupo e efetivamente “excluída” o que confere o que chamamos de profecia autocomprovatòria.

Outros exemplos muito comuns de estratégias compensatórias que afetam o cotidiano, estão muito ligadas ao enfrentamento da ansiedade e do estresse.

Foto de Polina Tankilevitch no Pexels

Exemplos:

A pessoa teve um dia desgastante no trabalho e para compensar o estresse, ela come uma caixa de bombons. Ou o relacionamento não vai bem e a pessoa ingere bebidas alcoólicas para aliviar a ansiedade. Ou quando a pessoa se sente frustrada e angustiada e vai tomar aquela cervejinha. Ou se sente uma pessoa desvalorizada no trabalho ou na família e para aliviar esse sentimento de impotência, compra coisas que sequer estava precisando, somente pelo prazer de comprar.

Não há nenhum problema em comer um chocolate de vez em quando, tomar um gim ou mesmo comprar algo. O problema reside quando a forma de enfrentamento para as situações se repetem cotidianamente, ou seja, dia após dia, tornando-se um vício ou uma compulsão. Obviamente que todas as estratégias compensatórias citadas acima para lidar com o sofrimento foram disfuncionais, pois além de não ter resolvido o problema a médio e longo prazo, acarretaram mais sofrimento, inclusive trazendo outros problemas para a pessoa resolver, como obesidade, alcoolismo, cartão para compras bloqueado, dívidas pendentes, dentre outras. E toda essa problemática terá repercussões na própria regulação emocional da pessoa, visto que as estratégias compensatórias disfuncionais podem acarretar impacto físico, emocional e comportamental.

Leia também: Assédio moral no ambiente de trabalho

Sem o comando das emoções e com comportamentos compulsivos ao longo do tempo, a pessoa perde o controle da própria vida e muitas vezes sequer lembra por onde começou sua compulsão por alimentos e compras, porque não consegue fazer escolhas assertivas, já que não consegue organizar a vida, pois comportamentos continuados são matriz para padrões repetitivos. Portanto, para a quebra de padrões disfuncionais, é necessário agir na matriz, ou seja, nas crenças centrais ou nucleares da pessoa através de uma psicoterapia.

E você, se identificou com alguns desses comportamentos ou apresenta algum padrão disfuncional?

Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.

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