As pessoas ocupam em nossas vidas um papel fundamental, isto é fato! Psicólogos do desenvolvimento afirmam que para nos constituirmos como seres humanos precisamos dos outros, para que através destes, possamos desenvolver certos recursos que seriam bastante difíceis de serem desenvolvidos, impossíveis até, caso não tivéssemos o suporte de uma outra pessoa para o estabelecimento de vínculos em todas as fases da vida, principalmente nas primeiras. Em outras palavras, precisamos dos outros para nos constituirmos e “existirmos”, pois o ser humano é social e cultural. O isolamento nos causa sofrimento, mas contraditoriamente quando interagimos existem muitos conflitos entre as pessoas.
Esta reflexão me faz pensar na famosa frase do filósofo existencialista Sartre: “O inferno são os outros”. No entanto, paradoxalmente, são através dos outros que constituímos a nossa alteridade. Acredito que seja por este motivo que nos deixamos afetar tanto pelo outro, por aquilo que pensam, esperam e idealizam de nós.
A convivência com os outros pode ser bastante construtiva, satisfatória e empática. Mas, e quando este outro, por questões suas, é arrogante, tenta nos invalidar e pior que isto, tenta nos humilhar, maltratar, caluniar e nos desprezar, como fica a situação? Seria possível viver em paz consigo mesmo com alguma interferência “negativa” dos outros? A meu ver sim, e aqui vai alguns questionamentos para uma melhor avaliação da situação que porventura você esteja passando quando o assunto é relacionamento tóxico ou abusivo, seja este afetivo-conjugal, de amizade, familiar ou outros. E quando você refletir sobre tudo o que está escrito aqui, certamente terá uma outra perspectiva do que lhe acontece.
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1- O que esta pessoa significa para você?
O primeiro aspecto a ser considerado é o seu grau de proximidade na convivência com esta pessoa. É um chefe de trabalho? Faz parte da sua família? Que grau de familiaridade? Trata-se de um filho, um pai, alguém com quem você precisa conviver rotineiramente, ou simplesmente é alguém que você não precisa ter, tampouco manter laços? Caso você não precise manter um relacionamento, o melhor a fazer é desconsiderar o que o outro acha e o que pensa sobre você, pois isto na maioria das vezes diz mais respeito a aspectos dele e que são projetados em você. A terapia do Esquema (TE) explica que pessoas que apresentam este padrão de precisar humilhar o outro para se sobrepor e se autoafirmar, são pessoas que apresentam estratégia de enfrentamento desadaptativa para lidar com limites prejudicados e por este motivo, constroem um esquema de arrogo e grandiosidade como forma de contrabalencear o dano daquilo que de fato elas pensam acerca de si mesmas. Portanto, lembre-se: Sentir-se superior aos outros é assinar a crença da própria inferioridade. Como você pode perceber, neste caso especifico, o problema é do outro e não seu.
2- Certas condutas não devem nos atingir, seja porque não nos diz respeito, seja porque não agrega nenhum valor à nossa vida:
O segundo aspecto a ser questionado é uma extensão do primeiro: Vale a pena dar importância ao que os outros pensam de você? Porque isto é importante? Em que isto vai mudar sua vida? Penso que poderá contribuir para tirar sua paz. A pior coisa contra a própria paz é dar importância ao que os outros pensam, acham, opinam. É necessário alguma mudança em seu comportamento? Em caso afirmativo, seria interessante apostar em seu aprimoramento! É importante filtrar a opinião alheia e utilizá-la sempre positivamente para aquilo que for necessário em sua reforma íntima e para isto vale uma reflexão pessoal sim. Contudo, reitero: na maioria dos casos, a forma com que os outros te tratam não é um problema seu, é um problema deles. Cada um tem sua educação, seus valores e princípios e é preciso ter paciência e tolerância, até mesmo compaixão, pois pessoas que gostam de machucar os outros pelo simples prazer de ferir, normalmente tem feridas emocionais profundas.
3- A importância do autoconhecimento e empoderamento:
Tenha consciência do que você é, dos seus conteúdos e de suas questões. Esta conscientização e alinhamento do que somos, do que queremos e do que estamos fazendo, nos fortalece diante das dificuldades da vida e nos favorece em nossas relações interpessoais. Invista em seu autoconhecimento e autodesenvolvimento, pois como sempre digo, se você não sabe quem é, alguém vai te definir. Aprendemos muitos conhecimentos na escola, mas não aprendemos a nos autoconhecer; não aprendemos habilidades que são importantes para a vida e para a convivência com as pessoas. E estes conhecimentos levaremos para a vida, muitas vezes definindo alguma situação importante ou indo “ladeira abaixo” caso saibamos lidar com as circunstâncias da vida ou não.
Foto de capa: Photo by LOGAN WEAVER on Unsplash
Autora
Soraya Rodrigues de Aragão
Psicóloga, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. Autora em 4 livros publicados. Escritora em vários portais, jornais e revistas no Brasil e exterior.
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